domingo, 19 de setembro de 2010

NETTUR aponta sugestão a candidatos

Capacitar estudantes é uma saída para o Ceará


O debate, atualmente feito, sobre turismo no Ceará, segundo a professora Luzia Neide, é quase insignificante

O turismo deve ser encarado como uma forma de corrigir desigualdades e combater a pobreza. Fora disso qualquer política é insuficiente. A afirmação, em forma de conselho aos candidatos ao Governo do Estado, é da professora doutora Luzia Neide Coriolano, membro do Laboratório de Estudos do Território e do Turismo da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Ela aponta, de maneira incisiva, que o Ceará ainda não criou uma cultura de turismo. Apenas tira proveito da visitação para a geração de empregos e, a maioria, mal remunerados.

Para ela, a abordagem sobre a área do turismo na disputa pelo cargo de Governador do Estado é quase insignificante, a começar pelas propostas alocadas nos planos de Governo. "A campanha revela o que eles (candidatos) querem para o turismo. As diretrizes ainda são insipientes, deixam muito a desejar", disse a especialista. A proposta, segundo ela, é vinculada ao modelo elitista.

"Daí porque todas as políticas estão voltadas para o turismo de grandes empresas, que traga divisas. Nós precisamos sim de divisas, não podemos dispensá-las, mas não basta isso. Um estado pobre como o Ceará precisa de muito mais", avalia a estudiosa.

Modelo

O primeiro ponto que deve ser esclarecido, e combatido, para ela, é o fato de os governos, e consequentemente, os candidatos, implantarem no Ceará o modelo convencional de turismo, assim como é feito nos países ricos. "Vejamos que a luta do Ceará é por oportunidades de trabalho no turismo, não é ainda para fazer o turismo", disse ela, ao apontar como prática da forma convencional, a seção de terrenos no litoral do Estado para a construção de grandes hotéis e resorts.

"Isso é bom. Nós temos que explorar mesmo o potencial turístico do Estado, mas é necessário que se exija das empresas a responsabilidade socioambiental. E isso não é feito. Precisamos monitorar as ações dos que procuram o Ceará para lucrar, pois estes são altamente beneficiados com a apropriação de espaços e estruturas, incentivos fiscais e mão de obra barata. As grandes redes precisam oferecer uma contrapartida à sociedade", critica.

Clique

Outra observação que faz sobre este modelo é que ele se desenvolve até mesmo sem a ajuda do poder público pelo poderio das empresas e pelo fato de o mundo ter se tornado uma espécie de "aldeia global", onde o conhecimento sobre as diversas regiões do globo estão ao alcance de um clique no computador.

Para deixar claro que a política desenvolvida atualmente na área é insuficiente, ela aponta o fato de a cidade de Fortaleza ainda estar totalmente despreparada para a recepção do turista com qualidade. "Para aqueles que vêm ao Ceará e ficam hospedados em resorts, cercados de segurança e luxo, tem serviço de qualidade. Agora, vá um turista andar em Fortaleza? Vai ver que nós estamos despreparados. Não tem segurança, não tem serviço de qualidade".

A professora apontou como outro grande desafio, a inversão da lógica que impera atualmente, não só no Ceará, de o poder público só começar a enxergar novas oportunidades com as coisas já em andamento.

"O turismo comunitário e o turismo verde, por exemplo, estão acontecendo de forma efervescente no Ceará e no Brasil. É um eixo alternativo que os governos só se dão conta quando as coisas já estão funcionando", argumentou, ao reforçar que esse tipo de atividade já começa a dar uma nova forma ao turismo no Ceará e acaba se transformando em uma alternativa para o desemprego.

Ferramenta

Um dos caminhos que aponta a professora, é a capacitação, a começar pelas escolas, para fazer do turismo um grande negócio. "O turismo é uma atividade econômica muito cara. Se nós soubermos fazer uso dessa ferramenta de forma consciente, com planejamento de alto nível e gestão de qualidade, haverá uma grande oportunidade para os cearenses", enfatizou.

Para ela, a ideia implantada pelo atual Governo de capacitar estudantes do ensino médio para as atividades turísticas é uma das saídas. "Estive em Camocim, recentemente, em um evento de oito escolas de ensino médio, do Estado, que estão ministrando cursos de turismo. Com certeza serão pessoas qualificadas, em um futuro bem próximo, para atuarem na área".

Empreendimentos

Sobre um dos assuntos polêmicos que estão sendo debatidos, que é o caso da construção de grandes obras como o Centro de Eventos e o Acquário, a especialista disse que são empreendimentos importantes para a cadeia turística, porém afirmou que só podem ser dados como positivos dependendo de como serão utilizados. "Não posso me posicionar contrária a um empreendimento como esse (aquário). Temos que saber é como é que nós vamos nos beneficiar disso. Se não for para melhorar as condições de vida da população, trazer ações educativas e gerar desenvolvimento social, nunca vai ser positivo". [DN 19/set/10]

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