quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Manifestantes ocupam plenário da Assembleia

Na noite de ontem, os ativistas deixaram o plenário, no entanto, prometeram passar a noite no hall da Casa
DN 28 novembro 2013
Cerca de 60 estudantes, professores e servidores das universidades públicas estaduais interromperam uma solenidade em homenagem ao servidor público no plenário da Assembleia Legislativa do Ceará, ontem, reivindicando melhorias para professores e as instituições de ensino superior mantidas pelo Estado. Os ativistas saíram do plenário, mas ocuparam o hall do Parlamento e prometem deixar o local só quando forem recebidos pelo governador Cid Gomes.
Estudantes, professores e servidores das universidades estaduais pedem concurso para professores, Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos servidores e melhor infraestrutura nas universidades estaduais. Foto: Bruno Gomes
A movimentação foi pacífica. Os manifestantes reivindicam melhorias para a Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Vale do Acaraú (UVA) e a Universidade Regional do Cariri (Urca). De acordo com Silvia Helena de Lima, presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade do Vale do Acaraú (SindiUva), o grupo decidiu permanecer até que sejam abertas as negociações.
Para saírem do plenário, os ativistas pediram que a integridade física deles seja preservada; livre acesso para buscar alimentação; e uma audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia da Casa. Entre as reivindicações durante o protesto, eles conseguiram uma fala na TV Assembleia tratando do assunto.
Concurso
Entre as os pedidos dos manifestantes, também estão o concurso para novos professores, Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos servidores, política de assistência estudantil e melhor infraestrutura nas universidades estaduais.
Após a ocupação, os deputados Tin Gomes (PHS), Antônio Carlos (PT), José Sarto (Pros), Raquel Marques (PT) e Eliane Novais (PSB) se reuniram com uma comissão do grupo. Durante a reunião, ficou acordado que será solicitado uma audiência pública para debater as reivindicações, que, posteriormente, serão enviadas ao governador.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Docentes da Uece (SindUece), Elda Maciel, ficou decidido, ainda, que os ocupantes teriam garantidos os seus direitos, como integridade física e acesso a água e comida.
Além disso, ficou acordado, que um grupo de 60 pessoas, devidamente identificado, poderá ter um trânsito livre na Assembleia Legislativa. Segundo o coronel Túlio Martins, coordenador militar da Assembleia Legislativa, essas pessoas possuem permissão, pois estavam na casa no momento das negociações.
Segundo Silvia Helena, há um déficit de 800 professores efetivos nas universidades públicas do Estado. A presidente do SindUva diz ainda que um concurso foi realizado, mas nenhum professor chegou a ser convocado até o momento.
A Polícia Militar (PM) foi chamada, e viaturas do Comando Tático Motorizado (Cotam) ficaram encarregados de realizar o cerco nos arredores da Casa Legislativa enquanto os manifestantes permanecerem no local. De acordo com o major Martins, cerca de 30 policiais do Batalhão de Choque estão do lado de fora da Assembleia Legislativa e só irão entrar caso seja solicitado. Dentro do Parlamento, a segurança é feita pelos policiais da Casa. O coordenador militar garante que a tranquilidade será mantida, e os agentes estão apenas protegendo o patrimônio.
Acesso
Devido à manifestação, um evento que seria realizado, na noite de ontem, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/CE) precisou ser cancelado. Dezenas de pessoas que chegaram à Assembleia não puderam entrar no Legislativo.
A assessoria de Comunicação do deputado estadual Tin Gomes informou que a audiência pública requerida pelos ativistas será realizada nos próximos dias, mas não precisou a data em que deverá acontecer.

domingo, 24 de novembro de 2013

"Privatização de tudo" gerou protestos, que vão continuar

20.11.2013

Folha de S.Paulo | Poder
Eleonora de Lucena entrevista David Harvey
GEÓGRAFO DIZ QUE A CRISE MUNDIAL AMPLIOU A CONCENTRAÇÃO DA RIQUEZA E CRITICA GASTOS DO BRASIL COM COPA E OLIMPÍADA
O projeto neoliberal é privatizar e transformar tudo em mercadoria. No seu fracasso em realizar promessas de eficiência estão as raízes dos protestos que eclodem pelo mundo e no Brasil. Partidos convencionais, reféns do capital internacional, não conseguem canalizar a raiva das ruas. Não há ideias novas, e as manifestações vão continuar.
A análise é do geógrafo marxista britânico David Harvey, 78. Professor da Universidade da Cidade de Nova York, ele ataca os "oligarcas globais" e afirma que os bilionários foram os que mais ganharam com a crise.
Crítico de megaeventos como Copa e Olimpíada, ele diz que os governos são muito influenciados pelo capital financeiro: "Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos".
A partir de sexta Harvey irá a debates no Brasil sobre o lançamento de seu livro Os limites do capital e da coletânea Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil.
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Qual sua avaliação sobre a situação mundial?
É muito mutante e volátil. Está tão perigosa quanto sempre foi. O que me surpreende é que não há novas ideias. As receitas propostas aprofundam o modelo neoliberal ou tentam desenvolver alguma forma de keynesianismo. Ambas opções me parecem muito frágeis.

O sr. disse à Folha em 2012 que a crise deveria aprofundar a concentração de capital e as desigualdades. Isso ocorreu?
Sim. Todos os dados mostram que o número de bilionários cresceu no mundo. Foi o grupo que melhor se saiu melhor na crise, enquanto todos os outros ou permaneceram estagnados ou perderam. O crescimento principal está sendo canalizado para o 1% mais rico da população mundial. É preciso haver uma redistribuição de renda globalmente e entre classes. O clube dos bilionários é que é o problema. Oligarcas globais controlam potencialmente ¾ da economia global. Meu ponto é: vamos para crescimento zero, sem canalizar o crescimento para eles e, ao mesmo tempo, devemos fazer uma redistribuição.

Nesse cenário haveria uma guerra, não?
Olhando para o que está acontecendo nas ruas se pode pensar que esse tipo de coisa não está tão longe assim.

Qual sua visão dos protestos pelo mundo? O sr. defendeu a criação de um "partido da indignação" para lutar contra o "partido de Wall Street". Como essa ideia evoluiu?
Os movimentos não estão indo muito bem. O poder político se moveu rapidamente para tentar reprimir os protestos. Há também muitas divisões entre os movimentos. Sobre o futuro, é muito difícil prever. A situação é muito volátil para os movimentos.

E sobre os protestos no Brasil?
Existe uma desilusão generalizada do processo político. As pessoas estão começando a discutir como modificar os piores aspectos da exploração capitalista. Há também uma alienação, que leva a alguma passividade, que é interrompida ocasionalmente por explosões de raiva. O nível de frustração por todo o mundo está muito alto agora. Não surpreende que essas manifestações ocorram. O problema é canalizar essa raiva para movimentos políticos que tenham um projeto. Prevejo mais explosões de raiva nos próximos anos – no Egito, na Suécia, no Brasil etc.

Há conexão entre esses movimentos?
Sim, cada um tem suas demandas específicas, mas há problemas de base provocados pela natureza autocrática do neoliberalismo, que virou um padrão para o comportamento político. Ele não é satisfatório para a massa da população e fracassou em entregar o que prometeu. Há uma crise na governança democrática e uma raiva contra as formas tomadas pelo capitalismo. No norte da África os protestos foram parcialmente sobre a alta nos preços da comida. Isso diz respeito ao poder do agronegócio e à especulação com as commodities, causas da alta dos preços.

No Brasil os protestos estouraram por causa da alta nas tarifas de ônibus. Como especialista em questões urbanas, como o sr. avalia o problema?
O projeto neoliberal é privatizar e transformar tudo em mercadoria. Tudo vira objeto das forças do mercado. Dizem que essa é a forma mais eficiente de prover bens e serviços para uma população. Mas, na verdade, é uma maneira muito eficiente de um grupo da população reunir uma grande soma de riqueza às custas de outro grupo da população – sem entregar, de fato, bens e serviços (transporte, comida, casas etc.). Essa é uma das razões do descontentamento da população. Por isso, explodem manifestações de raiva em diferentes lugares e em diferentes direções políticas. Há uma situação de fundo que dá uma visão comum às batalhas, embora cada uma delas seja específica e diferente. No Brasil foi o custo do transporte. Em outros lugares é preço da comida, da habitação etc.

Em São Paulo há também a discussão sobre o aumento do imposto sobre propriedade urbana. Isso também evidencia uma luta social?
Vamos chamar de luta de classes. Ela está mais evidente, mas muitas pessoas não gostam de falar sobre isso.

Partidos tradicionais foram pegos de surpresa no Brasil. Mas os movimentos não têm organização própria. Como isso pode se transformar em forças políticas organizadas?
Se eu tivesse essa resposta, não estaria falando com você agora. Estaria lá fora fazendo. A situação agora reflete a alienação das pessoas em relação a praticamente todos os partidos políticos e a sua desilusão com o processo político. Nos EUA, o Congresso tem uma taxa de aprovação de 10%. Nessa circunstância, as pessoas não vão canalizar o seu descontentamento para o processo político, pois não enxergam esperança nisso. Por isso, há essa raiva. E assim as coisas vão continuar.

O sr. concorda com a visão de que partidos de todos os matizes caminharam para a direita e que a esquerda se diluiu em ONGs e estruturas voláteis?
Há internacionalmente uma ortodoxia econômica, que é reforçada pelos movimentos do capital internacional. Os partidos políticos convencionais se tornaram reféns desse poder.

Isso acontece com o PT?
Isso é para o julgamento de seus leitores. Noto que há uma desilusão sobre o PT entre seus próprios integrantes.

O sr. está escrevendo um livro sobre as contradições do capitalismo. Qual é a principal?
Estão mais restritas as condições que o capital tem para crescer. É muito difícil achar novos lugares para ir e novas atividades produtivas que possam absorver a enorme quantidade de capital que está buscando atividades lucrativas. Em consequência muito capital vai para atividades especulativas, patrimônio, compra de terras, commodities. Criam-se bolhas.

O sr. escreveu que é cada vez mais difícil encontrar o inimigo. Quem é o inimigo?
O inimigo é um processo, não uma pessoa. É um processo de circulação de capital que entra e sai de países. Quando decide entrar, há um "boom"; quando decide sair, há uma depressão. Por isso é necessário controlar esse processo de circulação. O Brasil tem possibilidades limitadas, porque o capital pode simplesmente desaparecer.

No início o Brasil parecia estar indo bem na crise. Agora estamos travados. O que deu errado?
Houve mudanças modestas no Brasil no sentido de redistribuir renda, como o Bolsa Família. Mas é necessário fazer muito mais. Muito dos gastos em enormes projetos de infraestrutura ligados à Copa do Mundo e à Olimpíada são uma perda de dinheiro e de recursos. As pessoas se perguntam por que o país está fazendo todos esses investimentos para a Fifa ter um grande lucro. Para o resto do mundo é surpreendente ver brasileiros se revoltando contra novos estádios de futebol.

Copa e Olimpíada não fazem bem para o país?
A Grécia está em dificuldades em parte por causa do que foi feito em razão da Olimpíada de Atenas. Muitas cidades olímpicas nos EUA entraram em dificuldades financeiras.

Como o sr. explica o poder da Fifa e do COI?
É como qualquer poder monopolista: extrai o máximo do que se tem a oferecer. Os governos são muito influenciados pelo capital financeiro. Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura, de urbanização. Envolvem também despossuir pessoas, removendo-as de suas residências para abrir espaço aos megaprojetos. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos.

Como o sr. analisa a situação política na America Latina?
Politicamente houve, na superfície, um tipo de política antineoliberal. Mas não houve nenhum verdadeiro grande desafio para o grande capital. Há discursos anti-FMI. Mas, de outro lado, o Brasil está ofertando a

exploração de seu petróleo para empresas estrangeiras, por exemplo. Não é profunda a tentativa de ir realmente contra as fundações do capitalismo neoliberal. É uma política antiliberal só na superfície, na retórica. Mas há alguns elementos, como o Bolsa Família, que não fazem parte da lógica neoliberal. Mesmo a Venezuela não vai muito longe em realmente desafiar os interesses do capital.
Os EUA não perderam posições na região?
Os EUA estão mais fracos na América Latina, em parte porque o crescimento da região foi mais orientado para a o comércio com a China, que ampliou o seu papel imensamente. De muitas formas, a economia na América Latina é muito mais sensível ao que ocorre na economia chinesa do que na norte-americana.

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OS LIMITES DO CAPITAL
AUTOR David Harvey
EDITORA Boitempo (2013)
QUANTO R$ 79 (592 págs.)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Protesto de professores de universidades estaduais tem passeata e confusão

Diário do Nordeste 07/112013
Professores, servidores e estudantes de universidades estaduais realizaram protesto nesta quarta-feira (6) reivindicando melhorias no ensino superior no Estado. A manifestação teve início por volta das 15h na Praça da Imprensa e o objetivo do grupo era chegar até ao Palácio da Abolição, sede do Governo, para uma audiência com governador do Ceará, Cid Gomes. 

Entretanto, o percurso foi interrompido por uma barreira policial. Em meio a tentativas de negociação para que alguns representantes das universidades ultrapassassem a barreira policial, houve confronto entre manifestantes e policiais. Foram disparadas bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. Alguns manifestantes responderam com pedras e derrubaram as grades de proteção. 

Manifestantes atearam fogo em vários momentos. FOTO: Lucas de Menezes 

Participaram do ato profissionais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) que reivindicavam, entre outros assuntos, concurso público para professor efetivo, a regulamentação do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) para professores e servidores e melhorias na infraestrutura dos campi. 

Após negociações com policiais que faziam a barreira na Av. Barão de Studart com Rua Pereira Filgueiras, 6 representantes das universidades conseguiram uma reunião com a Casa Militar no intuito de marcar uma audiência com Cid Gomes. Ao fim do encontro, a presidente do Sindicato dos Docentes da Uece (SindUece), Elda Maciel, repassou aos manifestantes que havia fracassado a tentativa de audiência com o governador, que estava em Brasília. "O secretário explicou que não podia marcar uma audiência com o governador e que iria passar para chefe de gabinete tentar marcar. Ele disse que não podia garantia que ia ser feito". 

O governador e o prefeito Roberto Cláudio participaram, nesta quarta-feira (6), em Brasília, do lançamento do bloco parlamentar formado pelo PROS e pelo PP. 

O grupo marchou até o Palácio da Abolição, sede do Governo Estadual, ao som de tambores e apitos. O trânsito foi bloqueado pelos manifestantes nos dois sentidos da Av. Desembargador Moreira durante a passeata. Depois o grupo seguiu pela Rua Padre Valdevino e, em seguida, na Av. Barão de Studart.

Desde o início, pessoas mascaradas ficaram na linha de frente dos manifestantes. A movimentação do grupo foi acompanhada de perto por um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). 

Funcionários de diversas lojas fecharam as portas enquanto o grupo passava. Apesar da tentativa de proteção dos lojistas, a vidraçaria de uma concessionária de veículos foi quebrada e as fachadas de diversas lojas foram pichadas por manifestantes com rostos cobertos. 

Integrantes do Sindicato dos Docentes da Uece, principais organizadores da manifestação, se distanciavam do grupo toda vez que os mascarados realizavam as pinturas nas paredes. "A gente não sabe de onde eles vieram. Esse pessoal entra em toda manifestação, não tem mais como controlar. Para nós, não interessa o confronto", disse Elda Maciel, presidente do Sindicato. 

Barreira policial impediu a chegada de manifestantes ao Palácio 

Um grande contingente de policiais foi deslocado a uma barreira formada no cruzamento da Avenida Barão de Studart e a Rua Pereira Filgueiras. Por volta das 17h35, um confronto entre policiais e manifestantes teve início. Foram disparadas bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. 

Durante o confronto, integrantes do Sindicato dos Docentes da Uece pediam calma aos policiais e manifestantes. Em nota, o Governo do Estado informou que está disposto a retomar a negociação com os representantes da Uece e da Urca após o retorno das atividades acadêmicas. Já quanto às reivindicações da UVA, o Governo declarou continuar aberto ao diálogo em busca do entendimento. 

Professores em greve Os professores da Uece estão em greve desde o dia 29 de outubro. Já a Urca deliberou a greve em assembleia realizada na última terça-feira (5). Está marcada para a próxima sexta-feira uma assembleia na UVA, em que será votado se a universidade entra também de greve ou não.