sábado, 27 de outubro de 2012

Um milhão desiste de curso superior

Segundo levantamento, 18% dos alunos matriculados na faculdade em 2010 não retornaram à graduação no ano passado. Especialistas destacam falta de interesse, de aptidão e de qualidade das instituições. Recentemente o Ministério da Educação (MEC) anunciou aumento de 5,7% nas matrículas do ensino superior, entre 2010 e 2011. O número, que superou a marca de 6,7 milhões de graduandos aliado ao dado de concluintes - 1.022.711 -, mostrou também a outra face da expansão da etapa escolar no País. Apesar de o leque ter se aberto para mais estudantes, o número dos que conseguem levar o curso até o fim ainda é baixo. Levantamento realizado pelo jornal Correio Braziliense mostra que de 2010 para 2011 praticamente um milhão de alunos não renovou a matrícula - taxa equivalente a 18%. Dos 5.398.637 de graduandos, somente 4.392.994 efetivaram a inscrição. Especialistas afirmam que a expectativa de conclusão do curso no Brasil gira em torno de 50%. São diversos os motivos que levam alunos a desistirem dos cursos. O diretor do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia, Roberto Leal Lobo, especialista no tema, destaca a falta de motivação, de interesse, questões financeiras e até a qualidade da universidade. "Existe um mundo de possibilidades. Muitas instituições não conseguem fazer uma boa transição entre o que o estudante espera e o que ele vai encontrar no ensino superior. Também existem os que não têm base e se perdem na universidade, logo são desencorajados." Desistência - A técnica de segurança do trabalho, Cecília Nunes, 28 anos, faz parte da relação dos que tentaram seguir o caminho do ingresso na faculdade, mas deu errado. A estratégia não funcionou para a jovem que não conseguiu sair do primeiro semestre de turismo, em uma faculdade particular do Distrito Federal. "Gostava do curso, mas não tive condições financeiras", conta. A solução foi o ensino técnico. Formada em segurança do trabalho, Cecília pensa em voltar a estudar. "Mas faria outro curso. Turismo não tem mais a ver com meu projeto de vida." Prejuízo - Alguns estudantes não necessariamente desistem da graduação, apenas mudam de área ou trancam o curso. Ainda assim, para especialistas, esses alunos entram na conta de investimento sem o lucro esperado. Segundo cálculos do Instituto Lobo, cada aluno custa cerca de R$ 15 mil ao ano nas instituições públicas e R$ 9 mil nas privadas. Para Roberto Lobo, o prejuízo não se restringe ao estudante e à instituição. "A sociedade também perde". O número de desistências, hoje estimado em 18%, embora seja alto, já foi pior e está perto da média global. "O pico foi em 2008 e 2009, quando houve a expansão do ensino - chegou a 21%. Nos Estados Unidos, por exemplo, as boas universidades são as que colecionam índices baixos." Na opinião do assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e professor da Universidade Católica de Brasília, Célio Cunha, a qualidade do ensino oferecido é o motivo mais forte do baixo índice de renovação de matrículas, principalmente nas instituições públicas. Segundo ele, é fundamental que as universidades apostem em uma pedagogia que possa acompanhar os alunos mais de perto. "É importante ter uma política de orientação, como ocorre na pós-graduação", acredita. O Ministério da Educação diz estar ciente dos dados e estuda a situação. Superior incompleto - A quantidade de estudantes que não renovaram a matrícula foi calculada pela reportagem do Correio com base no Censo da Educação Superior 2011. O levantamento do Inep mostrou que 6.379.299 de pessoas se matricularam em instituições de ensino em 2010. Excluindo os 980.662 formandos, mais de cinco milhões de pessoas deveriam ter feito a matrícula novamente. Em 2011, das 6.739.689 inscrições, 2.346.695 foram de calouros, totalizando 4.392.994 de estudantes remanescentes. Ao subtrair o número dos que se matricularam com os que deveriam ter se inscrito, a reportagem chegou aos 1.005.643 que ficaram para trás. Os dados, entretanto, não levam em consideração estudantes que mudaram de curso, trancaram provisoriamente ou morreram no período. O Inep promete para esta semana o lançamento dos microdados do Censo, capazes de precisar ainda mais a informação. Evasão preocupa - Em fevereiro deste ano, o MEC e as universidades começaram a discutir uma proposta para mudar o número de evasão no ensino superior. Os dados de 2010, recém-divulgados na época, eram alarmantes. O índice oficial mostrava que 15,6% dos alunos nas universidades particulares abandonaram o curso, nas universidades públicas; o percentual estava na casa dos 13,2%. Como solução, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Claudio Costa, chegou a anunciar propostas como a ampliação da assistência e a criação de monitorias para estimular os graduandos. Nos próximos dias, o Inep anunciará os novos dados de evasão. Roberto Leal Lobo ressalta que a preocupação é justa. "O prejuízo é muito grande. É uma pena e um desperdício. Os países todos batalham contra isso e o Brasil deve fazer o mesmo. Não pode desistir da luta". O assessor especial da Unesco e professor da Universidade Católica de Brasília, Célio Cunha, reforça o apelo de Lobo. Segundo ele, também é preciso olhar para o ensino médio, porque, embora o número de evasão da graduação seja alto e haja a necessidade de garantir qualidade e assistência para os que ingressam, ainda existem os que nem conseguem chegar ao ensino superior. (Correio Braziliense)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Pesquisa aponta que universitários não mostram interesse em carreira docente

A porcentagem de alunos que não pensavam em ser professores ou tinham dúvidas sobre essa opção foi de 52% na licenciatura em Física e 48% na Matemática.
Pesquisa realizada na Faculdade de Educação (FE) da Universidade de São Paulo (USP) mostra que metade dos alunos dos cursos superiores de licenciatura em Física e Matemática não se interessam ou tem dúvidas em se tornarem professores de educação básica. O estudo da pedagoga Luciana França Leme também ouviu alunos de Medicina, que manifestaram interesse pela profissão, mas que não a seguiram devido aos salários e as condições de trabalho.
 A pesquisadora recomenda que a licenciatura seja mais valorizada nas áreas de Física e Matemática, e que os alunos de Pedagogia tenham mais oportunidades de vivenciar a experiência de ensinar em sala de aula. Ao todo foram aplicados 512 questionários para ingressantes nos cursos das licenciaturas em Física, Matemática e Pedagogia e do bacharelado em Medicina da USP. As questões verificaram se os estudantes tinham interesse em ser professores da educação básica, que abrange a educação infantil (de zero 5 anos de idade) e os ensinos fundamental (de 6 a 14 anos) e médio (de 15 a 18 anos). "A maior motivação da pesquisa foi a escassez de professores no Brasil, em especial na área de ciências exatas, pois estudos indicam que poucos jovens querem seguir carreira docente", diz Luciana.
A porcentagem de alunos que não pensavam em ser professores ou tinham dúvidas sobre essa opção foi de 52% na licenciatura em Física e 48% na Matemática. "Os estudantes apontaram que entraram nos cursos por interesse em Matemática e Física, pelo fato de a USP ser gratuita e dos recursos que oferece e que poderão ser úteis no mercado de trabalho, sendo que este último argumento poderia ser usado para justificar o ingresso em qualquer outro curso da Universidade", afirma a pedagoga. Na Pedagogia, 30% descartaram seguir o magistério ou estão em dúvida. "O índice é menor porque muitos alunos ingressam nessa carreira pensando em ser professores, além de outras razões, como a possibilidade de trabalhar com crianças".
A questão salarial apareceu como uma das principais razões pensadas para se optar ou não pela profissão. "Normalmente, quem queria entrar no magistério sabia exatamente o valor dos salários pagos aos professores, enquanto os que não tinham interesse estimaram valores fora da realidade, ou muito altos ou muito baixos", diz a pesquisadora. "A decisão também é influenciada por outros fatores intrínsecos à profissão, como a liberdade para trabalhar, pois boa parte dos alunos alegou que só seria professor se conseguisse ingressar numa escola reconhecida por ter bom trabalho educacional, onde pudesse ter relativa autonomia e ensinar com certa liberdade".
Condições de trabalho - Entre os alunos de Medicina, a porcentagem daqueles que em algum momento da vida pensaram em ser professor chegou a 15%. "É um número alto, especialmente se for levado em conta que se trata de um grupo que normalmente apresenta maiores vantagens sociais, vindo de famílias de renda mais alta, e que por esses motivos pode escolher a profissão que quiser", conta Luciana. "A maioria deles ainda assinalou que gostaria de dar aulas no ensino médio". A pesquisa apurou que os estudantes interessados no magistério não se tornaram professores de educação básica devido às condições de trabalho e os salários. "Entretanto, foi manifestado um grande respeito pela profissão de professor", ressalta a pedagoga. "Eles apontaram com grande precisão o papel do professor como carro-chefe da sociedade e principal responsável pela aprendizagem social e cognitiva das crianças e adolescentes". Luciana recomenda que os professores sejam reconhecidos como profissionais da educação. "Isso não deve acontecer apenas em termos de imagem pública, pois o professor é o único profissional capacitado que pode atuar no aprendizado dos alunos da educação básica", destaca. "O reconhecimento também deve vir em termos de carreira e de salário, viabilizando meios de ascensão social que não passem pelo abandono da atividade educacional" A pesquisadora observa que os cursos de Física e Matemática precisam conciliar mais a pesquisa científica com a formação de professores para a educação básica. "Muitos alunos entram pensando em fazer pós-graduação, seguir carreira acadêmica na universidade ou ir para outras profissões", diz. "Na área de Pedagogia, há um maior interesse pelo magistério, mas é necessário que esses alunos vivenciem de forma mais intensa a experiência das salas de aula, especialmente das escolas públicas". A pesquisa faz parte de dissertação de Mestrado de Luciana, apresentada na FE e orientada pela professora Sandra Zakia Souza.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Geógrafo Niel Smith falece aos 58 anos

Escocês dedicou a carreira a estudar conexões entre antropologia, economia e geografia.
 
O geógrafo escocês Neil Smith morreu ontem aos 58 anos de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado desde quarta-feira em um hospital de Nova York (EUA).
Smith era considerado um dos mais importantes geógrafos contemporâneos. Ele lecionava antropologia urbana, cultural e ambiental na City University of New York.
Ele dedicou sua carreira a estudar as conexões entre campos aparentemente distantes: a geografia, a antropologia e a economia. Seu estudo focava principalmente as questões de desenvolvimento e transformação dos centros urbanos, em especial nos EUA e na Europa, e a relação entre estas transformações e a lógica do capitalismo.
Smith argumentava que os espaços, seja em escala global ou local, são fruto não só das relações sociais, como também das relações capitalistas com o território. Essa teoria rendeu uma de suas obras mais conhecidas, "Uneven Development: Nature, Capital, and the Production of Space" ("Desenvolvimento desigual: Natureza, capital e produção do espaço", em tradução livre), de 1984. Nascido em 1954, na cidade escocesa de Leith, ele começou os estudos no Reino Unido. Em seguida, partiu para os EUA, onde chefiou o departamento de Geografia da Universidade Rutgers. Ele era co-editor da revista "Society and Space" e fazia parte da equipe da "Nature".
FOLHA DE SÃO PAULO 30set12