terça-feira, 31 de maio de 2011

Manifestação cobra mais professores


Professores e estudantes de universidades públicas estaduais do Ceará reivindicam a realização de concurso público para professor e reclamam da falta de diálogo com o governador Cid Gomes
Faixas, apitos, narizes de palhaço, cartazes e um violão. Assim, estudantes e professores da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) realizaram manifestação ontem em frente à Assembleia Legislativa.

A principal reivindicação é a realização de concurso para professores efetivos. Na Uece, são necessários que 300 professores sejam contratados para suprir a demanda. Segundo a pró-reitora de Graduação da Uece, Lineuda Murta, nenhum concurso concurso para professor efetivo foi feito desde 2005”.

O presidente do sindicato dos Docentes da Uece (Siduece), Epitácio Macário, afirma que entre 2007 e 2010 foram contratados apenas 54 professores efetivos, que participaram de concursos públicos realizados antes de 2007. No mesmo período, foram chamados 510 professores substitutos. “Eles querem sustentar as universidades públicas a base de professores substitutos e nós não vamos aceitar isso”, enfatiza Macário. Hoje, os substitutos representam 25%.

Além disso, são solicitadas melhorias na infraestrutura nos campus das universidade estaduais. Na UVA, a categoria pede a construção de restaurante e residência universitária, para evitar a evasão escolar. “Só o campus do Itaperi da Uece tem restaurante universitário e a obra se arrasta há três anos. No interior, apenas Quixadá possui residência universitária e são apenas 25 vagas”, afirma o secretário de assuntos do Interior da Uece, Tiago Nascimento.

Os manifestantes ironizavam a construção do aquário do Ceará durante a manifestação. “É ou não é piada de salão? Tem dinheiro pro aquário, não tem para a educação”. Às 11h50min, os manifestantes tentaram entrar na Assembleia, mas foram impedidos pelos seguranças. Após uma hora de negociação, eles realizaram reunião com o líder do Governo, deputado Antônio Carlos (PT).

Os representantes do movimento docente afirmam que, desde janeiro, conversam com o secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, René Barreira. De lá para cá, eles aguardam para conversar com o governador Cid Gomes. Como não conseguiram realizar a audiência, decidiram apelar para a mediação do líder do Governo e do presidente da Assembleia, Roberto Cláudio (PSB). Os dois se comprometeram a agilizar a conversa com Cid.

Na manhã de hoje, será solicitada a realização de audiência pública na Assembleia, para debater as demandas de professores e estudantes.

Até o fechamento desta edição, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior não respondeu as críticas de estudantes e professores. Segundo a assessoria, René Barreira está em viagem. O Governo do Estado não adiantou se uma audiência pública com Cid Gomes será realizada, pois ele está viajando e só deve chegar hoje.
ENTENDA A NOTÍCIA
Uma manifestação de professores e estudantes da Uece, Urca e UVA foi realizada na manhã de ontem em frente à Assembleia Legislativa. Concurso público para professor efetivo e melhoria da infraestrutura dos campi são as principais reivindicações.

Geimison Maia
geimison@opovo.com.br
opovo 31/maio/11

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Quando eu era jovem o meu sonho era tornar-se geógrafo. Entretanto, antes de ingressar no curso superior, quando trabalhei num escritório, numa atividade que envolvia consumidores de diversas partes, comecei a pensar mais profundamente sobre essa questão e concluí que essa disciplina deve ser extremamente complexa e difícil. Após alguma relutância, acabei optando pelo estudo da Física." (Albert EINSTEIN).

A ética não pode limitar-se a uma teoria da sobrevivência do indivíduo


[OPOVO] Os debates sobre o Código Florestal manifestaram certo paradoxo: por um lado, sabe-se que a virulência dos debates revela que a eles subjazem enormes interesses econômicos; por outro lado, a impressão é que este debate apagou as diferenças ideológicas, pois há representantes das diferentes concepções de sociedade em ambos os lados.

O que não se diz é que isto só se explica porque o fundamento desta postura é uma determinada forma de conceber a realidade, de modo muito especial a natureza e sua relação com o homem que constitui o alicerce do projeto moderno de civilização e que abarca em seu seio diferentes concepções da forma de organizar a vida coletiva. Daí porque é possível como se afirma que certa esquerda se alie com a direita.

F. de Roose e Ph. van Parijs são de opinião que para compreender o fundo deste debate se faz necessário distinguir: o “conservacionismo”, segundo o qual a natureza não tem valor senão como um instrumento a serviço do homem, e o “preservacionismo”, que justifica a proteção da natureza pelo valor que esta possui em si mesma. Significa dizer que para o conservacionismo os processos naturais possuem só um valor instrumental: constituem os meios de que dispõe o homem em seu próprio benefício enquanto que para a segunda posição eles possuem valor intrínseco independentemente da utilidade, portanto, valem por si mesmos.

A primeira posição se radica na grande virada que produziu o pensamento moderno. Este gera transformação radical na concepção de natureza e de nosso relacionamento com ela. A natureza mostra-se agora como uma construção teórica (constituição e validação de seu sentido) e prática (tecnologia) do homem, que a ele se contrapõe radicalmente como matéria-prima de seu conhecimento e ação, o que lhe dá a sensação de ser o “Senhor” (mestre) e “Possuidor” da natureza (Descartes). A questão não é mais expressar a constituição intrínseca da natureza, mas de transformá-la em simples algo quantificável, expressável em linguagem matemática, a nova gramática do mundo, e explorável economicamente.

Com isto se abre o espaço para um novo tipo de saber da natureza, o das novas ciências: não se trata mais de contemplar as coisas enquanto inseridas na ordem cósmica, mas de possibilitar a dominação do homem sobre elas. A natureza se transforma “exclusivamente” em meio para satisfação das carências humanas, instrumento de efetivação de seus desejos, o que conduz à sua sistemática dominação e destruição.

Na concepção alternativa, tudo é portador de constituição própria a partir de onde se estabelecem seu lugar no universo e o parâmetro decorrente do desenvolvimento de suas potencialidades. Neste sentido se pode dizer que cada ente possui um valor e enquanto tal possui um estatuto para a ética.

A ética que brota daqui exprime que as ações são boas na medida em que se radicam em valores de base e não entram em contradição, em última instância, com a totalidade da realidade. A ética não pode limitar-se a uma teoria da sobrevivência do indivíduo, mas é uma “teoria da integração” do indivíduo com os outros seres humanos e a natureza. Trata-se da exigência de construção comum de outro modelo de configuração da vida individual e social, de produção e de consumo radicado nos valores da cooperação, integração e interconexão entre os seres humanos e os seres naturais.

Manfredo Araújo de Oliveira
manfredo.oliveira@uol.com.br
Professor da UFC