Maioria dos alunos que ingressam em
licenciaturas de física, biologia, matemática e química não conclui o curso
Ao
investigar a base de dados do Censo da Educação Superior no Brasil, a
pesquisadora Rachel Pereira Rabelo descobriu um dado inédito e preocupante: dos
alunos que ingressaram em 2009 nos cursos de licenciatura em física, biologia,
matemática e química, apenas uma minoria consegue concluir o curso. A situação
mais preocupante está em física, onde somente um em cada cinco (21%) estudantes
obtém o diploma. Em matemática e química, a relação é de apenas um em cada três
universitários (34% em ambos os cursos). Em biologia, a taxa é de 43%.
Os dados
constam de sua dissertação de mestrado na Escola Nacional de Ciências
Estatísticas do IBGE. Rachel, que é também servidora do Inep (instituto
vinculado ao MEC responsável pelas avaliações e censos educacionais), conseguiu
trabalhar pela primeira vez com dados longitudinais dos estudantes, ou seja,
pôde acompanhar até 2013 a trajetória de uma mesma geração de alunos que
ingressou nesses cursos cinco anos antes. Isso só foi possível porque, a partir
de 2009, os dados do censo permitiram identificar cada universitário em todo o
seu percurso acadêmico.
Além de uma
minoria de alunos conseguir se diplomar nessas licenciaturas, a tese mostra
que, desses poucos que se formam, a maioria, uma vez no mercado de trabalho,
acaba desistindo da profissão e migra para outras ocupações, possivelmente em
busca de melhores salários.
O olhar de
Rachel para essas quatro licenciaturas se justifica porque elas estão entre as
de maior déficit de professores em sala de aula. A tese mostra que somente 20%
dos profissionais que dão aulas de física no país possuem formação adequada
para esta disciplina. Esses percentuais são um pouco maiores nos casos de
química (35%), biologia (52%) e matemática (64%).
Outro dado
que revela o tamanho do problema nessas áreas é o percentual de alunos na
educação básica que não tiveram professores nessas disciplinas. Em 2013, de
acordo com o Censo Escolar, um terço das turmas do ensino médio não tiveram
docentes de biologia (33%), química (35%) ou física (36%) para dar aulas. Em
matemática, a proporção foi de 25%.
Ou seja, uma
parcela nada desprezível de nossos jovens têm formação precária nessas
disciplinas porque sequer havia professor com titulação adequada para dar
aulas.
O problema
não é novo, e, nos últimos anos, o Ministério da Educação tentou combatê-lo
estimulando a criação de novos cursos ou tentando atrair mais alunos para essas
áreas de formação de professor, oferecendo bolsas e outros incentivos tanto
para professores já em atuação, mas com formação inadequada, quanto para novos
alunos que pretendem seguir a carreira docente.
Esse
esforço, até agora, tem se mostrado insuficiente para dar conta do desafio. Com
base nas taxas de ingresso, conclusão, e em componentes demográficos e do
mercado de trabalho, Rachel fez projeções do número de professores em sala de
aula até 2028. Elas indicam que o problema é mais preocupante em física e
matemática, pois, mesmo no cenário mais otimista, a estimativa é de que
chegaremos em 2028 com um número menor de professores até do que o verificado
hoje nessas duas áreas.
Ao fim, a
conclusão do estudo é de que seria muito mais eficiente desenvolver políticas
para evitar a evasão nesses cursos do que priorizar a ampliação do número de
vagas. É como se estivéssemos insistindo em colocar mais água numa banheira com
vazamentos por todos os lados.
Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/fuga-de-professores-15925506#ixzz3Y3XnoVwL
(O Globo)
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